É inevitável que não haja certa comoção com as Olimpíadas, comoção esta que se amplia quando os meios de comunicação começam a criticar negativamente os atletas brasileiros que não logram êxito em suas modalidades. No esporte, a vitória e a derrota são acontecimentos muito próximos. Quando o atleta entra na arena, ele não está sozinho. Os seus adversários treinaram tanto quanto ele para disputar os jogos. Se se chegou a uma final, já se trata de um feito espetacular. Muitos outros foram deixados para trás. O ouro, a prata ou o bronze serão decididos por detalhes ínfimos, que não desmerecem os perdedores, apesar de glorificar os vencedores. Quando os jornais dizem que este ou aquele atleta decepcionou, eles falam em termos das expectativas que se criam em torno de campeões. A coisa mais difícil do campo esportivo é ser o primeiro, porque, uma vez lá, as pessoas vão querer que você fique sempre lá – enquanto há uma centena de outros atletas que querem tirá-lo daquela posição. A diferença do esporte em relação a outras áreas é que só se chega lá por mérito verdadeiro: não há conchavos ou esquemas que fazem uma menina do Piauí ser medalhista de ouro no judô. Mas agora, nas próximas edições, se ela for menos do que ouro, já surgirão as manchetes acerca da “grande decepção”. Quem compra esse tipo de ideia é tão cego quanto quem a publica.
O esporte amador no Brasil não tem
os mesmos incentivos que em países desenvolvidos. Somente atletas de ponta como
César Cielo e modalidades de destaque como o voleibol recebem patrocínios
elevados e boas condições de treinamento. Milhares de outros têm que sacrificar
muito de suas vidas para pelo menos chegar a uma competição internacional. Caso
estes cheguem a uma conquista improvável, terão acesso a condições que deveriam
ser iguais para todos. Mas não se pode falar em condições iguais no
capitalismo. A lógica do sistema é muito clara: se vende, financiamos; se não
vende, aquele abraço.
Algo que também sempre surge no
Brasil em momentos de Olimpíada, no calor das críticas de uma mídia financiada
pelos mesmos que queriam ver seus produtos vendidos por atletas de ouro, é a
comparação entre o futebol e os demais esportes. Meus caros, o futebol vende. Não
só no Brasil. Gera milhões para emissoras de TV e patrocinadores. É isso que
interessa em um sistema capitalista. É a mesma coisa que acontece, por exemplo,
nos Estados Unidos com o Baseball, a NBA e o Superbowl. A diferença é que lá as
universidades – na sua maioria privadas e de boa qualidade – se encarregam dos
esportes olímpicos. Surgem as histórias de que o futebol tem mais dinheiro e
que os jogadores de futebol recebem salários altíssimos. Acredito que não é o
que pensam os jogadores de times como o Botafogo da Paraíba, do Treze, da Desportiva de Guarabira e de centenas de outros pequenos clubes do Brasil. A comparação
inevitável no momento entre atletas olímpicos e futebolistas milionários pode
ter como alvo Neymar, que está entre os jogadores mais bem pagos do mundo. Mas
quem paga esse salário? São os governos? Não. Os governos estão gastando
indevidamente o dinheiro do contribuinte na construção de estádios – isso é
errado. Neymar está sendo mantido no Brasil através de uma parceria entre
empresas privadas formadas pelo Santos Futebol Clube – time que defende – e grupos
de investidores. Isso mesmo. Investidores. Espera-se retorno financeiro de
jogadores como Neymar. Ou vocês acham que todos os comerciais nos quais ele
aparece são de graça? As camisas dos times brasileiros atualmente são
verdadeiros abadás de tantos patrocínios que nem sempre combinam com as cores
do clube. Na França, país que vive uma recessão violenta, há poucas semanas, o
clube de futebol Paris Saint Germain contratou o sueco Zlatan Ibrahimovic, o
brasileiro Thiago Silva e o argentino Ezequiel Lavezzi por uma soma próxima aos
300 milhões de reais, segundo o portal de notícias R7. Então é hora de pararmos
de pensar que futebol só é milionário aqui e para todos.
Todos os atletas olímpicos merecem
respeito e reconhecimento. Aqueles que têm menos apoio merecem ainda mais. Se
eles “decepcionaram” a mídia, azar da mídia. Parabéns a todos os atletas que
estão nos jogos olímpicos representando a si e a seus países, enfrentando
adversidades, vencendo ou não. Apesar do que o sistema diz, competir é
importante sim. Vencer ou perder é consequência de estar na luta.
Juljan Lima Palmeira
04/08/2012
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