quarta-feira, 11 de abril de 2012

O braço de ouro


Acordei no meio da noite e vi que as paredes me interrogavam. Não estava preparado para tantas perguntas e por isso abri a porta, o portão e saí pela rua. Nada de interrogações. Quando virei a esquina me deparei com um braço de ouro maciço que se encerrava em uma mão em forma de súplica apesar de sozinha. Segui pela rua e passei por um bar. Havia uma mesa com algumas pessoas então me aproximei e me sentei. Nada. Não conseguia perceber em suas feições se eram homens ou mulheres. Eram pessoas somente. Não falavam, não bebiam, não comiam, não se moviam em absoluto. Passei algumas horas a observá-los e voltei a pensar nas paredes de minha casa e acreditei já estar pronto para responder às suas indagações. Despedi-me das pessoas na mesa, mas não obtive resposta. Na volta para casa, o braço de ouro estava no mesmo lugar. Apanhei-o e surpreendi-me com o seu peso. Era bem leve para um objeto feito de um metal maciço. Voltei ao bar e coloquei-o sobre a mesa entre as pessoas com quem estivera. Fui para casa. Quando abri o portão, a porta e entrei... Silêncio. As paredes não tinham mais perguntas. Adormeci ao som de pássaros e buzinas de automóveis.

Juljan Lima Palmeira
11/04/2012

De flores e de sonhos

I

A paisagem na janela
Que me confunde
Na qual me escrevo sem cessar

As doses virginais de pecado
Que me esquecem
Nas quais te enxergo a deslizar

Façam-se os sonhos e as flores
Do mesmo barro fúnebre
Onde seu rosto sangra por mim

Misturem-se os sons
Dos acordes dissonantes da sua ilusão
E dos rios de vileza
Que confluem para o meu coração

Existe mais verdade
No sangue daquele em que cospem
Do que em toda a soberba
Que muitos vivem para professar

II

Não te quero porque te amo,
Te quero porque preciso de mim.
É a mim que vejo quando te toco,
É a mim que espero em teu olhar.

Quando “Eu” não fores mais,
Não mais haverá amor.
Haverá pena, sofrimento, solidão
Envolvidos por tecidos finíssimos (de desamor).

Não te ressintas de pessoa tão lamentável:
Sou apenas um sonho sem sonhador,
Uma flor sem jardim...

Sou fruto da insolúvel equação
Que mistura amor e matéria barata:
Mais possuo, menos sou!

Juljan Lima Palmeira
Em: 11/04/2012